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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Thamco Gemini o primeiro DD rodoviário do Brasil

Muitas pessoas tem em mente que o primeiro ônibus dois andares (DD) foi fabricado pela encarroçadora gaúcha Marcopolo, situada na cidade de Caxias do Sul. Lançado em 1995, o modelo Paradiso 1800 DD reinou sozinho no mercado por três anos, de 1995 a 1998, quando então a fabricante Busscar lançou o Panorâmico DD. No entanto, seis anos antes da Marcopolo, no final de 1989, a Thamco anunciou que em janeiro de 1990 ela lançaria um novo e sofisticado ônibus para o segmento rodoviário, voltado especificamente para o turismo, para serviços executivos de recepção e traslado, mas que poderia ser aproveitado para linhas rodoviárias de média e longa distância, dada a sua versatilidade, o moderno projeto e as configurações dos dois salões de passageiros situados em dois andares.

O novo ônibus recebeu o nome de Gemini. Gemini quer dizer “gêmeos”, ou seja, eram duas carrocerias gêmeas, sobrepostas uma sobre a outra, formando dois andares, algo inédito no Brasil. Já tivemos outras carrocerias denominadas como dois andares no Brasil. Em 1958 aqui chegou os GM Flexible importados dos EUA pela Expresso Brasileiro. Eles receberam a denominação técnica de DD, mas de DD tinha apenas um ressalto de degrau no corredor do salão de passageiros, tornando uma parte do salão de passageiros mais alto do que a outra. Este mesmo ressalto se aplicava ao teto. A elevação de cerca de 20 cm no corredor e no salão de passageiros, com acesso através de degrau, se aplicava ao teto, com uma parte mais alta do que a outra. Em 1972 tivemos outro ônibus configurado como dois andares, o Marcopolo II “Camelo”, apelido dado por causa da corcunda no teto, o ressalto.

Os ônibus de dois andares começaram como um projeto da equipe de assessoria do prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, e foram inspirados nos ônibus que circulavam em Londres, os famosos Leyland. O prefeito Jânio era um entusiasta dos ônibus dois andares e encomendou a empresa estatal que operava o transporte coletivo urbano na cidade de São Paulo, CMTC (Companhia Municipal de Transporte Coletivo), estudos neste sentido. Os dez primeiros carros foram fabricados pela própria CMTC (projeto do arquiteto Luiz Paulo Gião de Campos e do engenheiro Alvaro Szasz, baseado em um modelo Leyland inglês) e a MAFERSA é quem deveria construir os restantes. Porém, devido ao alto preço pedido, a CMTC realizou uma nova licitação onde a THAMCO saiu vitoriosa. Seriam 10 carros por mês, de abril a julho, e 30 entre agosto e setembro. Foram apelidados de "Fofão" pela população e os ônibus caíram nas graças do povo, embora a Thamco tenha batizado os modelos como ODA (ônibus de dois andares).

Da tecnologia desenvolvida para os ODA, nasceu a ideia e o projeto do Gemini. A carroceria deste tinha 12,86 metros de comprimento, a largura era de 2,60 metros e a altura total da carroceria ficou em 4,25 metros. Apenas para comparar, a mais alta carroceria de ônibus em 1989 tinha 3,80 metros de altura e pertencia aos modelos rodoviários Marcopolo Paradiso 1400 G.IV e Nielson Diplomata 380. Ambos com carroceria classificada como HD (High Deck), mas 45 cm menores em altura. E isso fazia toda a diferença, pois seria praticamente a altura oficial dos futuros DD lançados em 1995 pela Marcopolo e em 1998 pela Busscar, mas com 15 cm a menos.

Essa altura extra do Gemini em relação aos HD Paradiso 1400 e Diplomata 380 permitia algo que neles não poderia ser executado, que era a destinação do 1º andar para o salão de passageiros. No Paradiso e no Diplomata a altura do bagageiro externo era de 1,40 metro, muito pouco para a instalação de um salão de passageiros nele. No mínimo a altura teria de ser de 1,85 metro. No Gemini a capacidade total de passageiros era de 76, enquanto no Diplomata 380 e Paradiso 1400 variava entre 26 (Leito); 42 a 46 (Convencional). No 1º andar do Gemini foram disponibilizadas 22 poltronas e no 2º andar outras 54. O conforto dos usuários também foi contemplado no projeto da Thamco, pois o espaçamento entre as poltronas era de 880 mm e a largura das mesmas de 1,22 metro. Tudo semelhante a configuração de um ônibus com salão de passageiros Convencional. O banheiro seria um só e ficava situado no 1º andar, próximo a escada de acesso ao andar superior.


Veículo especialmente recomendado para linhas de alta demanda de passageiros e linhas de alto valor agregado, como Curitiba x São Paulo e Rio de Janeiro x São Paulo, bem como outras linhas Vips de empresas Brasil afora. O projeto não vingou, não teve sequência a partir de 1990 devido às dificuldades econômicas que assolaram o balanço orçamentário da Thamco, levando a empresa ao processo de falência e o fechamento da fábrica. Então, cinco anos depois, em 1995, surgiu o Marcopolo Paradiso 1800 DD G.V. O primeiro DD em escala comercial fabricado no Brasil, que reinou sozinho no mercado até 1998. Tanto ele quanto a Scania. Somente a Scania fabricou neste mesmo período chassis para carrocerias LD e DD. E também somente a Scania fabricou neste mesmo período chassis de configuração 8 x 2, os chamados quatro eixos, com duplo eixo dianteiro bidirecional.                                                                                                                                          O bagageiro destinado às bagagens e/ou encomendas ficou com excelentes 12,19m3 (metros cúbicos). O chassi, na época, somente uma fabricante tinha tecnologia disponível para atender as especificações. Era a Scania. Foram feitas adaptações estruturais no chassi K112TL 6 x 2, versão trucada de fábrica, e o mesmo tornou-se apto e homologado para receber a nova carroceria da Thamco, a maior fabricada no Brasil. O motor empregado no powertrain do chassi era da Scania, modelo DSC-1101, 11 litros, seis cilindros em linha, turboalimentado, com intercooler, sistema de injeção direta e mecânica via bomba injetora, 333 cv de potência, 145 mkgf de torque, com posição longitudinal e traseira. O chassi contava ainda com suspensão a ar nos três eixos e freios a ar. O novo ônibus prometia ser uma alternativa interessante, com uma nova proposta, que era de levar mais passageiros por viagem, praticamente 34 a mais, com um consumo pouca coisa maior do que um ônibus convencional. Eram dois ônibus num só. 

Logo após seu lançamento, a Trans Paraíba, umas das maiores empresas que existiu na Paraíba, anunciou a aquisição de unidades do Thamco Gemini para operação em suas linhas intermunicipais no estado. Anúncios saíram em jornais, até datando o lançamento de tais ônibus. Seriam produzidos com chassis Scania  K-112 TL 6X2 com capacidade de até 80 passageiros, porém, não se tem informação e nem registro algum desses ônibus em operação tanto pela Trans Paraíba como por qualquer outra empresa no estado.

Fonte: Mobilidade em Foco/Portal Ônibus Paraibanos
Matéria/Texto: Carlos Alberto Ribeiro/JC Barboza
Fotos: Divulgação/Portal Interbuss/Acervo Paraíba Bus Team
Retirado de:  Onibus Paraibanos

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